noticia site novo pesquisadora rejaneFaço parte de uma grande família e tive uma infância feliz. Minha mãe, Regina, dona de casa, e meu pai, Jorge Heitor, engenheiro civil e analista de sistemas, são casados há mais de 50 anos; tenho duas irmãs e um irmão mais velhos. Sou caçula temporã, o bebê do lar. Morávamos em uma casa em Vista Alegre, onde estudei até o ensino fundamental em escola pública. Meus pais sempre exigiram nota e postura e nos incentivaram a batalhar pelos nossos objetivos. No condomínio em que vivíamos, éramos uma das poucas famílias de negros. Sentia um leve preconceito no ar, mas nada era explícito, tudo era velado. Lembro um episódio dessa época, em que meu pai, vestido de maneira bem informal, foi a uma concessionária comprar um carro e não foi atendido pelo vendedor, que o trocou por um cliente branco. Ele voltou de carro novo, mas com o orgulho ferido pelo velho e estrutural racismo que envolve o Brasil.

Aos 8 anos, eu sabia o que eu queria ser quando crescer: independente. Minhas amigas sonhavam em se casar; eu, já naquela época, não queria depender de marido. Desejava ser livre e dona do meu nariz para poder comprar quantos sapatos desejasse (são o meu ponto fraco)!

Na oitava série, me dei conta de que amava química, meu coração saltitava ao entrar em um laboratório, percebi que as soluções que desenvolvesse ali poderiam mudar a vida de muita gente. Aquele espaço repleto de poções mágicas me abriu um mundo de possibilidades. Quando chegou a hora do vestibular, optei por Engenharia Química e passei para a UFRJ. Fui a única negra entre os alunos da minha turma. Mas isso não foi um empecilho na minha vida profissional.

Trabalho como pesquisadora da Coppe/UFRJ há 12 anos. Tenho 39 e me casei aos 30 com Junior, analista de sistemas. Desde 2011, sou uma das representantes de um projeto do Centro China-Brasil de Mudanças Climáticas, sediado na Coppe, uma parceria com a Universidade de Tsinghua, a melhor de engenharia de Pequim. A nossa meta é a produção de biocombustível a partir da rota enzimática. Esse processo, em que a enzima substitui o catalisador químico, produz menos resíduo e tem baixo consumo energético. Por conta dessa pesquisa, já fui à China mais de 20 vezes e aprendi a falar mandarim (também sou fluente em inglês e alemão). Lá, tornei-me mais tolerante, passei a valorizar as diferenças e a pensar estrategicamente.

Mas foi justamente nesse período, em que comecei a viajar com frequência, que o preconceito racial mostrou as suas garras. Sou constantemente parada em filas de aeroportos na Europa e nos Estados Unidos. Uma vez, na Alemanha, era a única mulher negra, e sozinha, na fila. Pensei: “vou ser tirada dessa fila em cinco segundos”. Em seguida, estava sendo revistada. Na China, minha segunda casa, fui vítima de um agressivo episódio. Estava jantando com brasileiros e derrubei, sem querer, Coca-Cola. Uma das integrantes do jantar disparou a inacreditável frase: “Tinha que ser preto”. Saí enfurecida do restaurantee fui acalmada pela turma do “deixa disso”. Mas como assim “deixa disso”? Se fosse no Brasil, eu iria imediatamente a uma delegacia. Mas eu estava na China.

A nova geração de negros tem maior consciência. Mas para os avanços de fato ocorrerem no Brasil, para a gente ter mais motivos para comemorar o 13 de Maio, precisamos deixar de nos comportar passivamente. A cada “deixa disso”, o país retrocede. Crimes de racismo devem ser denunciados e punidos. Essa é a fórmula da mudança.

FONTE: O GLOBO (https://oglobo.globo.com/ela/gente/pesquisadora-rejane-rocha-diz-que-preconceito-deve-ser-combatido-com-atitudes-firmes-22681012)

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